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17.11.05

Mentir


Escrever sem sentir
É como contar uma mentira
É disso que tento fugir
É por isso que me encontro perdida.
Misturo a ilusão com a dor
E escrevo sobre o silêncio
Conto uma história de amor
Que desmente o que penso.
E a noite é a minha confidente
A que me seduz com o esquecer
É ela que me mente
Para não me fazer sofrer.
Afinal tudo o que quero é o teu querer
E com palavras me tento iludir
Porque não te ter é como morrer
E é por isso que continuo a mentir.

A Deusa

Este é o rosto divino de um sentimento:
Uma deusa perversa e fervorosa,
Que mata a ilusão,
E destroi o segredo em fogo lento.
É ela que dá a punhalada odiosa,
É a que escreve os poemas em sangue,
E faz do ódio o próprio espelho
De raiva, tristeza e desolação...
É a espadachim da paixão,
Quando esta se veste de vermelho.
É a forma feminina da dor,
É a vontade de matar ou adormecer
Num esquecimento do sofrer,
É a linha indefinida entre o ódio e o amor.

16.11.05

Segredo

Esta noite morri muitas vezes, á espera
De um sonho que viesse de repente
E ás escuras dançasse com a minha alma,
Enquanto fosses tua a conduzir
O seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
Toda a espiral das horas que se erguessem
No poço dos sentidos. Quem és tu,
Promessa imaginária que me ensina
A decifrar as intenções do vento,
A música da chuva nas janelas
Sob o frio de Fevereiro? O amor
Ofereceu-me o teu rosto absoluto,
Projectou os teus olhos no meu céu
E segreda-me agora uma palavra
O teu nome - essa última fala da última
Estrela quase a morrer
Pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
E o meu sangue à procura do teu coração.
Fernando Pinto do Amaral